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quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

semântica

Tem épocas em que todas as formas de arte parecem que estão falando comigo pessoalmente. COMIGO. As canções são cheias de conselhos para mim, os filmes têm mensagens secretas que só eu entendo, os livros são inspirados na minha vida.

Existe aquela discussão sobre se a arte imita a vida ou a vida imita a arte. Vai ver que não é uma questão de quem imita quem, mas dos dois se alimentarem continuamente. Engraçado que eu só descobri recentemente que essa questão não é relativa a quem PRODUZ a arte, é uma coisa da sociedade em geral. Eu sempre tinha a idéia de que algo que um artista produzisse poderia começar a acontecer posteriormente na vida dele – e eu comecei a ver pequenos exemplos, que infelizmente não lembro agora. Mas enfim, nem era disso que eu estava falando.

O legal das épocas em que a arte fala comigo é que eu me sinto parte de algo maior. Como se o sentido das coisas estivesse sempre lá, mas por algum motivo eu sou especial e consigo "quebrar o código", entender o significado de tudo. Depois de um tempo, não são só as obras de arte, é tudo o que acontece, tudo o que eu vejo e escuto, tudo o que existe no mundo, sussurrando segredos que só eu entendo. Tudo se encaixa, é só uma questão de atenção e pensamento até eu decifrar a linguagem.

As obras de arte, de repente, estão falando com a minha voz, de um jeito mais bonito do que eu conseguiria colocar. As canções são minhas, e são lindas. A composição dos quadros, os parágrafos da literatura, todas as palavras e imagens e acordes, de repente eu sou parte disso tudo, e eu me sinto tão imensa e tão insignificante ao mesmo tempo. Parando pra prestar atenção, dá pra ver o quanto isso é bonito.


Espero mesmo que um dia eu também faça alguma coisa que fale diretamente com alguém.

domingo, 31 de agosto de 2008

O give me land, lots of land under starry skies above

Meu pai ficou 9 dias aqui comigo. Foi embora anteontem. Semana que vem meu flatmate novo se muda pra cá, aí no dia 5 eu vou encontrar minha mãe na Dinamarca (uhu!), e quando eu voltar, meu grande amigo Bernardo (que escreve o sobremusica, tá ali nos links eu acho) já estará aqui pra passar duas semanas aqui em casa. Foi ótimo passar esses dias com o meu pai, e eu estou feliz do flatmate novo estar vindo (meio apreensiva de morar com um cara quase totalmente desconhecido pela primeira vez, mas acho que vai ser legal), e tô animadassa do Bernardo vir, é meu primeiro amigo do Brasil que vem ficar aqui. Vamos a shows, e ele vai ganhar a Guinness prometida. Tudo ótimo.

Mas...
Minha avó morava sozinha no Espírito Santo, e no verão todos os filhos e netos iam passar as férias lá na casa dela. Ela dizia que tinha duas alegrias: quando o primeiro chegava e quando o último ia embora.
Eu adoro ficar sozinha em casa. Adoooooro. O que eu mais queria ontem era curtir meu apartamento, aproveitar esses últimos momentos de privacidade, cantando no banho, andando de roupão pela casa, tocando clarinete sem me preocupar com quem está ouvindo, cozinhando só pra mim com calma, deixando a cozinha bagunçada se eu estivesse sem saco de arrumar, chorando loucamente assistindo Gray's Anatomy ou rindo alto assistindo The IT Crowd.

Pois bem. Depois de duas semanas de céu nublado, ontem fez solzinho. Eis o dilema.
A vontade louca de sair e aproveitar o sol, que sabe-se lá quando daria as caras novamente por essas bandas.
A vontade louca de ficar em casa e não fazer absolutamente nada, depois de vários dias andando por mil lugares com meu pai.
Ai, meu Deus. E agora. Que fazer. Ó, que dilema.

Já diz o ditado, né: o sol tá indo embora e a gente tá na sombra.
Saí de casa. Passeei em Covent Garden e no South Bank com a Debora, amiga minha brasileira da minha sala. Foi ótimo.
Hoje, em vez de curtir meu apartamento, vou curtir uma exposição de um sueco aleatório e finalmente assistir Wall-E com outra amiga.

Se todos os dilemas da vida fossem assim, tudo seria mais fácil. Mas, pensando bem, talvez muitos sejam (e nem por isso é mais fácil). Acho que eu to enxergando metáforas de novo... hahahaha

terça-feira, 8 de julho de 2008

sanhaço

Tava voltando pra casa agora há pouco, olhei pela janela do carro e vi um passarinho verde. É, todo bonitinho, na grama de algum canteiro na lagoa. Ele tinha a ponta da asa preta, a cabeça meio alaranjada, mas era um passarinho verde. O carro tava parado num sinal e eu fiquei olhando ele pulando e ciscando.

Sabe a época em que eu enxergava metáforas? Então. Acho que passou. Eu olhei o passarinho verde, procurei, procurei, e não encontrei metáfora nenhuma.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Luisa-faz-auto-referencias-a-si-propria

Tava melhorando, a primavera chegando, os dias ficando um pouquinho menos curtos, as florzinhas nascendo (os crocus e os daffodills – acho que chama narciso em português, todos amarelos e bonitos), arvorezinhas cobertas de flores em Portobello Road, eu saindo na rua só com um casaco e o cachecol levinho, ontem nem precisei de luva, voltei a tomar frappucino... E hoje tá um frio da porra de novo, frio tipo minha-orelha-vai-gangrenar-e-cair, frio tipo frappuccino-é-o-caralho-me-vê-um-moccha-quentinho, frio tipo luisa-escrevendo-coisas-com-hífen.
É assim, né? As coisas vão melhorando, e você acha que a primavera tá logo ali, aí de repente o frio volta mais um pouco. Como na vida. Oh, céus, isso de enxergar metáforas ainda me mata! It's a gift... and a curse!

Enquanto isso, é dia dos namorados aqui, me falaram. Eu nunca lembro! A mulher da reunião dos representantes de sala deu balinha em forma de coracão pra gente, só pra deixar a gente deprimido, eu acho. Mas não funcionou – e eu também não comi a balinha.

Tô querendo obcecar com letterpress e silkscreen. Vamos ver se essa empolgação toda dura até semana que vem, quando eu devo ter mais tempo pra me divertir com isso.

Incrível eu estar atolada de tempo, sozinha no Valentine's Day, com orelhas geladas, quarto bagunçado, mil trabalhos pra terminar, enxergando metáforas e ainda estar de excelente humor. Como é que pode! Às vezes minha incoerência supreende até a mim.

Hoje tô meio self-centered. Como é que chama? Auto... qualquer coisa. Sei lá. Tô meio burra também, pelo visto, hehehe. E tô rindo das minhas próprias piadas internas, que ninguém entende, só eu. Mas com isso eu já me acostumei.
Eu, eu, eu, eu, eu.
Minha mãe foi embora ontem, aliás – tenho minha cama de volta. Tava com saudade!

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

desenhando o Pato Donald

Lembram quando vinham aqueles tutoriais em revistinha, que ensinavam a desenhar um personagem qualquer? Era muito frustrante, eu nunca conseguia. Eles mostravam como se fosse ser super simples. Aprenda a desenhar o Pato Donald! É facílimo! Agora você também pode desenhar as suas historinhas do pato mais querido do mundo! Primeiro passo: desenhe uma bola e faça uma linha horizontal e vertical. Segundo passo: marque o lugar dos olhos, chapéu e bico. Terceiro passo: desenhe tudo perfeitamente, se vira, mermão. Quarto passo: colora tudo. Quinto passo: tchanaaam! Mostre pra mamãe, pendure na geladeira, se torne um desenhista profissional, ganhe milhões de dólares, mulheres, iates.



***
Hoje eu ia ao show do Toots and The Maytals, sozinha mesmo, mas empolgadona. Saí mais cedo do curso e tudo, larguei meus pombos de silkscreen pela metade, peguei o metrô até Kentish Town (sério, toda vez que eu vou pra lá acontece alguma coisa desse tipo, da outra vez fui eu perdida no filme de terror da escola vazia com a raposinha e o minizelador). Achei o lugar do show e tava tudo apagado, as portas fechadas, vazio. Liguei pro lugar e ninguém atendia. Acabei voltando pra casa, metrô de merda demorando pra cacete, procurei em milhões de sites na internet até achar um deles que dizia que o show tava cancelado. Que saco.

Cancelamentos de uns e outros, raptei a Julia e fui continuar a montar meu armário. Os outros móveis que eu montei eram da IKEA, todos certinhos e tchururu. Esse era da Argos, e as instrucões não tinham muita noção. Tinha uns parafusos não catalogados, ferramentas não especificadas, um parafuso gordinho que sobrou, desenhos confusos, e instruções tipo como desenhar o pato donald: "Passo 7: colocar os pitocos nos buraaquinhos da base do armário. Passo 8: aparafusar os pézinhos do armário. Passo 9: montar o resto da parada toda. Isso, vai lá. Você consegue."

Fiquei pensando como tem tanta coisa na vida com instruções tipo de como desenhar o Pato Donald... A gente dá conselhos de vida amorosa pros outros como se fosse facinho. "Aí você vai lá e liga! Passo 2: vocês vivem felizes para sempre!". De carreira, é a mesma coisa: "Passo 1: você vai pra escola todo dia. Passo 2: você entra na faculdade. Passo 3: você arranja uma carreira, ganha milhões de dólares, mulheres, iates, e vive feliz pra sempre!".

A verdade é que eu nunca me entendi com as instruçõezinhas de como desenhar o Pato Donald. Eu desenhava a bola e as linhas e depois me perdia. Eu nunca desenhei extraordinariamente bem, mas certamente os personagens que eu desenhava melhor (a Pequena Sereia e os dálmatas) eram os que eu desenhava copiando sozinha, sem seguir o passo-a-passo das revistinhas. Ou os meus próprios (Xerife Perna-Bamba!). Eu achava que eu desenhava direitinho, nunca fui a melhor da sala, mas tava nos top 5, até eu entrar na faculdade e conhecer a galerinha fodassa que desenhava pra caralho. Mas tá, esse post nem é sobre isso (seja lá sobre o que ele for).

Semana passada eu comprei um caderninho Moleskine (tava em promoção), e tô começando a levar ele pros lugares e fazer sketches, mas eu fico com vergonha das pessoas me verem. Fora que às vezes eu to desenhando alguém parado lá do outro lado e a pessoa vai e se mexe, muda de posição, vai embora. Acho isso uma falta de consideração!
Mas seja como for, acho que tá na hora de eu começar a treinar e aprender a desenhar melhor, sozinha, sem passo-a-passo.

Eu já disse que eu enxergo metáforas, né?

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Querido diario,

Hoje de manhã eu tava prestes a começar a trabalhar em um freela quando a Julia me ligou e disse que o dia tava lindo e a gente tinha que ir passear. Eu fiquei meio assim, eu tinha que fazer o trabalho, mas po, dias lindos e ensolarados em Londres não são uma coisa com a qual a gente pode contar... Sei lá por que, eu estava com uma página de horóscopo aberta, e resolvi ler o meu: "As obrigações com sua saúde e com o trabalho tiram você da rota mais confortável da rotina. Contudo, cuidar direito das obrigações retornará em um bom desenvolvimento." Ou seja, era pra eu me dedicar ao trabalho. Mas eu só acredito em horóscopo quando me convém, então foda-se, peguei o laptop e fui passear com a Julia.

O dia não tava lindo, ele tava espetacular. Quando fui trabalhar, sentada num canteirinho na beira do rio (acho que TODO post meu fala em beira do rio, né?) vi que o laptop tava sem bateria e tive que ficar carregando aquela porcaria o dia todo sem trabalhar porra nenhuma.

A gente tirou fotos (pena que o cara da estátua não tava lá... ele tava ontem mas eu tava sem a câmera), a gente falou merda, a gente tirou mais fotos, a gente perturbou pombos e folhas e corredores (bem, eu perturbei, ao menos), e tudo foi outonal e iluminado e lindo.

Mas olha só uma coisa:



Tirei essa foto hoje, pra mostrar que o parlamento continua lá. Ontem foi um dia de lembrar de um evento que quase destruiu tudo, e hoje é 6 de novembro, e ele continua lá, inteirinho. Achei isso uma grande metáfora pra alguma coisa.
Ah, sim, porque eu enxergo metáforas, agora. É quase uma versão mais pedante de "I see dead people".