segunda-feira, 13 de julho de 2009

Heigh-ho, heigh-ho!

Então! Ainda tô na procura por emprego, mas fiz dois estágios aqui, e um deles me chamou pra trabalhar meio freela, um dia por semana. Não me pagam bem, e sendo um dia por semana é menos ainda, mas tem duas vantagens. Uma é a flexibilidade de horário, que me permite viajar e fazer outros freelas. Outra é que é o trabalho mais legal do mundo!! (tá, não chega a ser crítica de sorvete, mas tá bem próximo): flyers para shoooows!!! Lalalalaá!!!
É uma produtora eventos de bandas de rock independentes em Londres, eles organizam shows e tal, a maioria das bandas é de um rockzinho alternativinho que eu nem curto tanto, umas mais indie, outras mais industrial sei la o que, mas tá ótimo.
Infelizmente a maioria dos flyers é só pra mandar por email, e não são impressos, mas tive um impresso por enquanto, e deve ter mais em breve. Eu sou a única designer do lugar, o que em qualquer outro trabalho me deixaria meio bolada eu acho (porque quero um designer fodão pra me ensinar várias coisas), mas nesse é maneiríssimo, porque tenho muita liberdade pra fazer o que me dá vontade. Enfim. Tô gostando.

Na verdade nem queria falar do trabalho, mas da relação de amor e ódio que desenvolvi com o TRAJETO de ida e volta ao trabalho.
Essa produtora fica lá na putaquepariu, num bairro chamado Streatham, ao sul de Londres. Tenho que pegar trem – sorte que moro perto da estação, se tivesse que pegar metrô pra lá ia ser muito mais ódio que amor.

Mas então. O trem sai de meia em meia hora. E eu quase sempre perco o trem por menos de dois minutos, e tenho que esperar meia hora para o próximo. Isso fez com que eu começasse a adicionar ao meu vocabulário expressões que eu nunca tinha usado, tais como "dez e dezoito". Sim. Se eu perco o trem das 10:18, eu tenho que esperar o das 10:48. Sério. Tipo "Já vai, Luisa?" "Já, tenho que pegar o 10 e dezoito." Pra quem convive comigo e com meus habituais atrasos, sabe o quanto isso é surreal.
Eu comecei a desenvolver várias teorias sobre o quanto isso influencia a personalidade dos cidadãos londrinos – pelo menos os que pegam trem. Aquele clichê mental que a gente tem dos britânicos mega pontuais tomando chá das cinco é, obviamente, uma generalização grotesca, mas dá pra ver que tem um fundo de verdade. Um dos meus professores do curso ano passado era assim ("a aula começa as 10, não às 10:01! Por que vocês vivem atrasados?"). O baixista da minha banda daqui também é meio assim. Ele escreve pauta pra reunião. Pra quem assiste Flight Of the Conchords, a personalidade dele é muito parecida com a do Murray. E quem não assiste devia assistir porque é FODA.

Mas enfim. tô me desviando do assunto. Mas também não tô mais com saco de escrever, fica pra outro dia. Os esquilos suicidas, esquilos molhados, velhas velhíssimas que falam da guerra, esquisitões que puxam papo comigo no trem, etc, tudo isso fica pra outro dia.
Pelo menos tirei a poeira daqui um pouquinho...

segunda-feira, 6 de abril de 2009

nut zippers

Eu sempre adorei esquilos. Quando eu vim pra Londres pequena, a gente morava perto de Hampstead, e como lá é menos central e tem efetivamente um bosque, os esquilos eram bem ariscos. Minha mãe me levava ao parque e eu exercitava toda a paciência que meus 6 anos permitiam: quando eu via um esquilo, jogava uma avelãzinha perto dele. Esperava ele criar coragem pra cheirar o que eu tinha jogado. Ele pegava a avelã e saia correndo pra longe pra comer. Aí eu jogava outra um pouquinho mais perto. E esperava. Assim ia indo até o esquilo criar coragem de pegar uma avelã na minha mão, antes de sair correndo pra longe com a comida na boca.
Hoje é mais fácil, sobretudo no centro, os esquilos estão muito saidinhos. Em St James Park você estica a mão e vem uns 3 esquilos safados cheirar seu dedo, mesmo que você não tenha comida nenhuma...

Enfim. Há quase 20 anos eu observo esquilos, esquilos subindo em árvores, esquilos pulando, esquilos correndo, esquilos ficando em pezinho enquanto procuram alguma coisa, esquilos comendo, esquilos enterrando comida, esquilos procurando comida, esquilos perseguindo uns aos outros, esquilos com o focinhozinho sujo de terra, e todas as outras coisinhas fuefas que eles fazem, com seus rabinhos felpudos.
Quando a gente acha que já viu esquilo fazendo de tudo, lá vem a primavera de 2009 mostrar que não é bem assim. No último mês eu vi duas coisas inteiramente novas com esquilos!!

A primeira, e mais inacreditável, foi que eu vi um esquilo dar uma pirueta pra trás DUAS VEZES. Eu estava em Russell Square e acho que o galho de um arbusto encostou nas costas do bichinho e ele tomou um susto, e deu um pulo pra trás de 360 graus. Eu apontei pra ele muito empolgada, e o esquilo deu uma pirueta DE NOVO, o que significa que eu tenho até testemunhas!! (ainda bem, porque acho que ninguém ia acreditar nisso). Foi a coisa mais legal do mundo inteiro, o esquilo dando uma pirueta, o rabinho girando atrás, foi muito foda.

A segunda pra mim acabou sendo ainda mais impressionante, simplesmente porque eu não sabia que isso acontecia, e como eu disse, eu presto atenção em esquilos há quase 20 anos: eu vi um esquilo emitindo sons. Eu não sabia que eles faziam isso!!! Ele tava lá, guinchandinho no alto da árvore, e eu parei e comecei a imitar o som dele (ainda bem que eu tava em Greenwich Park e não tinha quase ninguém em volta porque eu devia estar parecendo uma maluca). O esquilo ficou meio confuso, ficou olhando pra mim e fazendo mais sons, e ele guinchava de lá e eu guinchava de cá (que nem com os saguis na janela do meu quarto no Rio). A gente teve essa pseudo conversa durante uns 3 minutos, aí o esquilo ficou de saco cheio e subiu num galho mais alto pra implicar com uns pombos. Veja só!!

A essa altura não me espantaria se semana que vem eu encontrar um esquilo fumando um cigarro ou andando de cabeça pra baixo ou sei lá. Pra gente ver que não importa o quanto você olhe pros esquilos, a vida ainda reserva surpresas...

segunda-feira, 16 de março de 2009

braços de fora

hoje eu tirei o casaco e fiquei só de blusa e colete de lã. Braços de fora!!!
Foi no parquinho tosco superfeio aqui atrás de casa. A alegria durou uns 5 minutos, porque eu fiquei com frio de novo. Mas fiquei animadinha. Sexta feira, em teoria, inaugura a primavera. Melhor época do ano, melhoooor época da vida, adoro adoro adoro adoro adoro!!

Já tá escurecendo mais tarde um pouquinho (a partir de sábado, o dia começa a ficar um pouquinho mais comprido que a noite...). As árvores em frente da igreja estão todas floridas, lindas e cheirosas (lembro pelo ano passado que isso vai durar muito pouquinho, mas tá valendo!).

Hoje ainda rolou colete, mas to sentindo que em breve vou ficar só de blusa na rua outra vez. Adoro a primavera. Vou saindo do casulo. Eu e os bichinhos, e os outros ingleses todos.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

semântica

Tem épocas em que todas as formas de arte parecem que estão falando comigo pessoalmente. COMIGO. As canções são cheias de conselhos para mim, os filmes têm mensagens secretas que só eu entendo, os livros são inspirados na minha vida.

Existe aquela discussão sobre se a arte imita a vida ou a vida imita a arte. Vai ver que não é uma questão de quem imita quem, mas dos dois se alimentarem continuamente. Engraçado que eu só descobri recentemente que essa questão não é relativa a quem PRODUZ a arte, é uma coisa da sociedade em geral. Eu sempre tinha a idéia de que algo que um artista produzisse poderia começar a acontecer posteriormente na vida dele – e eu comecei a ver pequenos exemplos, que infelizmente não lembro agora. Mas enfim, nem era disso que eu estava falando.

O legal das épocas em que a arte fala comigo é que eu me sinto parte de algo maior. Como se o sentido das coisas estivesse sempre lá, mas por algum motivo eu sou especial e consigo "quebrar o código", entender o significado de tudo. Depois de um tempo, não são só as obras de arte, é tudo o que acontece, tudo o que eu vejo e escuto, tudo o que existe no mundo, sussurrando segredos que só eu entendo. Tudo se encaixa, é só uma questão de atenção e pensamento até eu decifrar a linguagem.

As obras de arte, de repente, estão falando com a minha voz, de um jeito mais bonito do que eu conseguiria colocar. As canções são minhas, e são lindas. A composição dos quadros, os parágrafos da literatura, todas as palavras e imagens e acordes, de repente eu sou parte disso tudo, e eu me sinto tão imensa e tão insignificante ao mesmo tempo. Parando pra prestar atenção, dá pra ver o quanto isso é bonito.


Espero mesmo que um dia eu também faça alguma coisa que fale diretamente com alguém.