segunda-feira, 29 de outubro de 2007

frio e escuro

Acabou o horário de verão.
Agora escurece as 5 da tarde... E vai escurecer mais cedo e mais cedo até o primeiro dia do inverno. Eu já acho 5 horas muito cedo! Uma das coisas que eu mais gosto do verão aqui e isso de estar sol até quase 10 da noite.

E cara. Eu boto o aquecedor no timer, mas a merda do aquecedor só fica desligado!! Que porra é essa? Tá frio, cacete!!! Toda vez tá desligado!!! (e nem é a Julia desligando propositalmente dessa vez, porque ela tá no Brasil. Se ela tivesse esse poder telepático com máquinas a gente já teria internet funcionando).
Acho que só vai ligar de noite, quando eu estou debaixo do edredom e não preciso muito dele. Po. Esse timer tá totalmente equivocado.

Frrrriiio.

(e eu tomando frappucino. Tanto café quentinho no mundo e eu continuo no frappucino. Eu sou uma monga.)

sábado, 27 de outubro de 2007

When the leaves start falling from the trees

Eu já vim pra Inglaterra outras vezes, já até morei aqui outras vezes durante vários meses, mas essa é a primeira vez que eu passo a transição do verão pro inverno aqui. De outras vezes eu já cheguei em meados do outono, e fui embora durante o verão.

To reparando em várias coisas a respeito do outono que eu não tinha reparado antes, algumas boas e legais e outras ruins e irritantes. Vou fazer uma listinha do que eu lembro agora:


• BOA: As folhas "imprimem" marcas marrons no chão quando chove. Depois, quando tá seco, se alguém varre as calçadas, ainda dá pra ver vários formatinhos de folhas estampados na calçada, é bonito.

• RUIM: As folhas escorregam quando molhadas. Tenho que ficar desviando delas na calçada, e às vezes não tem pra onde desviar porque são muitas folhas.

• BOA: Muitas árvores ficam com coloridos realmente bonitos. Mesmo. Nos lugares onde tem fileiras de árvores, tipo ali na beira do rio em frente às Houses of Parliament, fica lindo mesmo.

• RUIM: Faz frio e não dá vontade de ir a parque nenhum ver árvore nenhuma.

• BOA: No outono os rapazinhos ingleses começam a se vestir melhor e a gente vê vários meninos bonitinhos nos metrôs e ruas e pubs da vida. E eu não tenho namorado e não preciso me sentir culpada de achar ninguém bonitinho. Rá.

• RUIM: Faz frio! E a mamãe falou que a gente tem que usar camadas. E camadas são horríveis pq eu sempre me sinto gorda. E Toda vez que eu entro em algum lugar quente tenho que tirar as camadas. O casaco. O outro casaco. As luvas. O cachecol. E é cansativo, e enche o saco, e essa semana morreu a esperança do verão perdido voltar, e eu sei que andar de camiseta na rua aqui agora só em março do ano que vem.

• BOA: As cores da moda desse outono são cinza, roxo, rosa escuro e azul turquesa. Tá em todas as lojas. E são cores que ficam hiper bem em mim, lalala. Quando minha mãe esteve aqui eu fiz compras um pouquinho. Preciso aproveitar a moda e comprar mais porque eu to com frio e me sentindo horrorosa toda vez que eu saio de casa. H&M é baratinho. E eu comprei luvas de lá cinza compridas gostosas que nem me deixaram com raiva de usar luvas ainda (pq usar luva é um saco na verdade).

• RUIM: A árvore em frente à janela da sala, onde eu sento pra trabalhar, fica mais feia com menos folhas.

• BOA: Dá pra ver os esquilos correndo pelo galho da árvore em frente à janela da sala, agora que não tem folhas.

• RUIM: tem milhões de casaizinhos muuuuito melosos e irritantes em todo lugar. Nunca vi isso aqui nessa quantidade! Do tipo que fica se sando beijinhos e mais beijinhos no ponto de ônibus, sorrindo e pegando no narizinho um do outro, e ficam olhando um pra cara do outro e perdem o ônibus, e tal. Da primeira vez que eu vi achei engraçado. Mas po, tem isso em todo canto, já deu, né? A teoria da Julia é que no outono todo mundo está começando relacionamentos que vão durar o inverno todo, quando faz frio. No final da primavera todo mundo termina pra viver a putaria do verão. Então tá todo mundo de casalzinho novo e apaixonado. Fora que está frio o suficiente pra eles ficarem abraçadinhos o tempo todo, mas ainda não o bastante pra eles simplesmente ficarem em casa. Aí eles ficam na rua todos melosos atravancando a passagem das escadas rolantes enquanto se olham nos olhos. Que saco. (putz, como eu to amargurada, hehehehe)

• BOA: Ficar em casa lendo no frio é muito gostoso... Tomando chazinho... Mmmm...

• RUIM: como recém-solteira, ficar em casa lendo no frio é contra-produtivo. Mas a idéia de sair dá uma preguiiiiiiça...

• RUIM: É o contrário da primavera. Agora cada dia vai ficando mais curto, mais frio, e a gente sabe que a tendência é só piorar. Isso é uma merda.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Que nem fantasma. Que nem mosquito.

Caralho, só pensamento muito errado esses dias, puta que pariu!

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Homem-estatua

Agora eu caminho na beira do rio, e está sendo uma experiência muito mais prazerosa do que eu pensei que seria possível. Mas enfim, isso fica num post mais longo pra outro dia.
Mas tá. Chegando ali no London Eye, tem os turistas todos e, por consequencia, os artistas de rua que tentam ganhar trocados com os turistas. Tem sempre os homens-estátua, e as pessoas vestidas de século XVII, e os músicos (tipo o carinha do violão que toca uma versão meio chata de I fought the law), os eventuais malabaristas, etc. Muitas vezes são os mesmos, dependendo do horário em que eu vou. E eu fico imaginando como será a rotina desses caras... Aquele é o trabalho deles. Será que o cara do monociclo considera o vestido de pirata como "colega de trabalho"? Será que tem rivalidade entre as estátuas, as semi-estátuas, o caras vestido de côrte do Luiz XVI e o casal vestido de côrte do Luiz XVI só que pintado de dourado e parado como uma estátua?

Hoje eu vi uma coisa muito curiosa. Pena que eu estava sem a câmera, teria dado umas belas fotos.
Um cara andando no parque, presumo que ele fosse um homem-estátua, mas eu nunca tinha visto esse por ali antes. O que era curioso é que ele parecia um cara londrino normal saindo do trabalho: sobretudo preto-acinzentado, carregando um guarda-chuva grande da mesma cor. Só que ele também era preto-acinzentado. No rosto, na careca, etc. E ele era seguido por pombos preto-acinzentados. Foi uma cena surreal. Eu olhei, achei estranho, aquele inglês no parque verdinho, todo monocromático, sendo seguido por pombos. Weird.
Andei mais um pouco, dei meia-volta, e quando passei por ali de novo ele estava no meio de um cercadinho metálico preto-acinzentado (ele traz seu próprio cercadinho?), sentado numa caixa preta-acinzentada, toooodo coberto de pombos preto-acinzentados (será que ele rola no alpiste antes de vestir a roupa?) – pombos no cercadinho, no chão, pousados no ombro dele, na perna, no cabo do guarda-chuva... E ele parecia tão triste! Ele nem parecia se esforçar para ficar parado como as estátuas. Pelo contrário: ele estava levantando o dedo do meio para alguém que olhava!! Não consegui ver quem era. O homem-estátua estava mandando alguém tomar no cu!! E a expressão no rosto dele estava mais triste do que nunca.
Achei tudo muito curioso, dei uma risada, botei a cena na minha pastinha mental de "coisas bizarras que a gente vê por Londres", e segui meu caminho.

Mas continuei pensando no cara. Tomara que amanhã ele esteja lá de novo para eu olhar com mais calma.
Aquilo não era normal, parecia uma cena de filme, o homem preto-acinzentado, parado, coberto de pombos, todo deprimido... Parecia um conto de fantasia, ou algum filme de animação do leste europeu, que conta a história algum cara que trabalha num banco inglês (tipo o pai de família da Mary Poppins), tão preso naquela vida, tão apático e imóvel em sua rotina, que acaba sendo amaldiçoado por alguma bruxa disfarçada de velha que alimenta os pombos, tranformado em estátua humana. Ele odeia aquela vida, e toda vez que ele anda na beira do Tâmisa, da estação de Charing Cross até seu antigo banco, só por nostalgia, os turistas tiram fotos, os japoneses querem uma lembrança do homem-estátua na frente da roda-gigante, as criancinhas apontam, os pais jogam moedas, etc. E ele manda todo mundo tomar no cu. Ele não come, não trabalha, não dorme. Só vaga pela cidade, ele e os pombos que seguem aquela estátua, os pombos asquerosos que ele já cansou de tentar espantar, agora já se acostumou, até gosta deles, são sua única companhia em uma cidade que está tão acostumada a ver coisas bizarras que não estranha mais um homem preto-acinzentado arrastando seu guarda-chuva pela beira do rio.