segunda-feira, 25 de junho de 2007

Fromages

Ontem fizemos um passeio lindo! Fomos a Gruyères, aqui perto (onde se fabrica o queijo gruyère, surpeendentemente).

Vou contar tudinho, então, tintim por tintim, porque esse blog não é escrito por uma pessoa que gosta de exercitar seu poder de síntese.
Então lá vai.

O Romário viveu a vida inteira no Brasil, como uma pessoa que vive no Brasil, se locomove no Brasil, dirige de um lado pro outro e de vez em quando se perde mas sempre se encontra e nunca teve problema com isso no Brasil. Aí aqui deram pra ele um carro com GPS, pra ele não se perder, e ele, que viveu a vida toda sem isso, tá viciado na porra do GPS, e o maldito GPS me irrita profundamente. É uma voz em português do Brasil, com o nome de Gabriela (sim, ela tem um nome, já veio no menu do GPS), e ela interrompe as coisas que eu estou falando ou a conversa que eu estou tendo ou a música que eu estou ouvindo pra dizer frases estúpidas como "saia na saída" ou "daqui a oitocentos metros vire a direita na rotunda. Segunda saída." e tal.
E quando a gente decidiu passar o dia em Gruyères, curtindo o lindo passeio, a Gabriela GPS madou a gente pra auto-estrada e eu fiquei puta e fiquei xingando ela e o mundo durante uns 10 minutos, até eu notar que a auto-estrada é inacreditavelmente bonita, e aí eu relaxei. A gente botou um endereço qualquer em Gruyères, e pronto. Aí, chegando perto, a gente segue as indicações do GPS pra sair da auto-estrada, começamos a passar por cidadezinhas lindas, e eu histérica, tipo "vira ali! tem um castelo pra esquerda, olha! vira pra gente ir ver!" e a Gabriela dizendo "vire na próxima rua à direita", e eu discutindo loucamente com a máquina "naaaaaão!!! vira à esquerda pra gente ver o castelo!!! depois a gente volta!!!", e o Romário, coitado, duas mulheres dando ordens diferents pra ele, ele ficava confuso. Depois de insistir muito em convenci ele a se rebelar contra as ordens da Gabriela e virar à esquerda pra ver o castelo, e a fontezinha, e a cidadezinha linda onde a gente estava. A Gabriela ficava dizendo "retorne assim que for possível" e eu saltei do carro com o meu sorrisinho triunfante e tirei fotos do castelo. Tá, ok, seguimos nosso caminho, voltamos pro carro e fomos ouvir as instruções do GPS, que começaram a levar a gente pra fora da cidadezinha, por uma estrada mão-dupla estreitissima onde só dava pra passar um carro, e o Romário todo preocupado, e eu exultante com o fato de estar numa estrada pequenininha pelo meio dos campos e não na auto-estrada, e a gente passa por essa estrada, onde não tem NADA em volta, e de repente começamos a passar pelo meio de um bosque, árvores pelos dois lados, um túnel de árvores lindas lançando sombrinhas esverdeadas e aqueles fachos de luz que passam pelo meio das folhas no chão da estrada, e eu toda feliz, e o Romário todo desconfiado, de repente a Gabriela diz "chegou ao seu destino."
Tipo. No meio da estrada. Cercada de árvores. E mais nada. O Romário parou o carro e a gente começou a rir (se não fosse uma máquina eu poderia que jurar que tinha detectado um tonzinho de sarcasmo na voz gravada da Gabriela). Acho que o GPS ficou puto comigo porque eu fiquei reclamando e liderando um micro-motim contra as ordens autoritárias dela.

Mas tá, depois disso a gente achou outro endereço em Gruyères e obedecemos o GPS e chegamos lá sem problemas. E a cidade é linda, toda pequena e medieval e tem um castelo que nem é tão antigo pros padrões europeus, de mil quinhentos e pouco, pq o antigo mesmo pegou fogo... Mas é legal mesmo assim e a vista e linda, linda, linda. dá pra ver todas as colinas plantadinhas e as cidadezinhas pequenas e as montanhas escaradasno fundo e os bosques e as vaquinhas. Lindo, lindo. Super pacato e lindo.

E, é claro, comemos fondue e raclette de queijo gruyère, e o fondue tava absurdamente bom, e no fim da tarde eu comi frtas vrmelhas com o "crème double de Gruyères", que e tipo um creme de leite especialidade local, e tudo foi lindo.

Na volta, eu vi que o GPS tinha um jeito de selecionar "evitar auto-estradas", então voltamos por um caminho diferente, onde passamos por outro castelo fofo, e também foi lindo.

E já que meu diário de bordo inclui comentários sobre filmes e seriados e coisas nerds em geral (e não só castelos e queijos, embora castelos e queijos possam ser bem nerds, dependendo de como se desenvolve a narrativa), quando cheguei de volta em Lausanne fomos ver Piratas do Caribe 3. Aliás, uma coisa curiosa: aqui só alguns poucos cinemas e horários passam filme legendado, e a legenda e em duas línguas! A linha de cima em alemão, a de baixo em francês. Curioso. Mas tá, o filme: po... Aquela coisa, né. Mas ver o Johnny Depp nunca é ruim. Ver vários Johnnys Depps é melhor ainda.
E não e que meu poder de síntese tá melhorando? Esse comentário sobre o filme foi bem suscinto, eu achei.

E esse foi meu domingo!
Sábado foi meio desinteressante. mas tranquilo.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Solsticio

Ontem foi solstício de verão aqui. O dia mais longo do ano. Para vocês, a noite mais longa do ano, e pra Julia, a viagem de avião confusa que sai da noite mais longa pra noite mais curta – mas pelo menos agora ela é minha Continentmate! :)

Pra comemorar o dia mais longo do ano, rola a Fête de La Musique, a festa da música, cheio de eventos de musica gratuitos ao redor da cidade. Pena que não tinham muitos eventos durante a tarde, era tudo mais de noite mesmo... Eu fui pro curso de francês (ah, sim, comecei o curso de francês, que é exatamente o que se espera de um desses curso de francês, com exatamente o tipo de pessoas que se espera em um desses cursos de francês), saí de lá tipo meio-dia, e fui assistir a um duo de pianos tocando música clássica. Aí eu almocei, fiquei tentando fazer hora até as 19h, mas percebi que eu tava morta de sono e voltei pra casa e dormi. Acordei mais tarde, o Ro chegou do trabalho e fomos ver duas big bands na escola de jazz local. Rolava uns grupos de rock em francês tocando pelas ruas da cidade, umas barraquinhas vendendo salsichão e churros e coisas do gênero (é, churros, mas aqui se pronuncia churrôs"), uma fanfarra tocando "imagine" do John Lennon e outras coisas perdidas por aí. Foi legal.

Eu gosto quando fica escuro tarde. A pior coisa do solstício de verão é que você sabe que daqui pra frente só vai piorar, os dias ficando mais curtos e mais curtos e mais curtos até chegar o inverno onde anoitece às 4 da tarde e tudo é escuro e frio e deprê. Mas pelo menos ainda temos o verão todo pela frente. Eu quero ir nadar no lago!
Eu acho...

Eu tenho medo de falar francês com as pessoas no telefone. Pelo menos ao vivo tem o recurso da mímica...

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Demenagement

"Déménagement" quer dizer "mudança", afinal. Irônico que eu não soubesse isso.
Bem, tá, o curso mudou de lugar, me inscrevi, yadda yadda yadda, começo amanhã às 9h (4 da manhã para vocês, vejam só).

O curso de francês fica numa rua horizontal (uhu!!) no fundo de um vale muito muito fundo, e também fica muito perto da FNAC, aiaiaiai!!
Do lado da FNAC tem um elevador público que permite que as pessoas tenham que subir menos ladeiras e escadas. Muito bem, Suiços. Gostei de ver.

Eu saí do curso (onde fui me inscrever), subi as escadas rolantes da FNAC (é o caminho alternativo do elevador), estava sem saber o que fazer e pensei "o que será que acontece se eu entrar nesa rua daqui?". Aconteceu que eu saí em frente ao supermercado, achei que aquilo era um sinal divino, porque eu estava mesmo considerando rodar as ladeirinhas tortas atrás do supermercado.

Eu não gosto de supermercados onde os ingredientes das coisas são em alemão e eu não sei o que eu estou comprando. Mas eu gosto de supermercados que vendem tomatinhos cereja italianos importados baratinho, ou massa Barilla a preço de banana. Então estou com sentimentos conflitantes para com o supermercado.
Algumas coisas que são caras no Brasil são bem baratas aqui (tipo bebê milho em conserva, eba!), e algumas coisas que são baratas no Brasil são muito caras aqui (tipo carne).

Fiz minhas comprinhas, desci ladeira, subi ladeira e fui pro ponto de ônibus pra voltar pra casa, tranquilo, e na hora de entrar no ônibus entraram junto duas mulheres acompanhadas de nove criancinhas muito pequenas, deviam ter menos de 3 anos (3 no máximo), tiponem sabiam falar direito. E eram tão bonitinhas! Todas de boné ou chapeuzinho pra proteger do sol, tão branquinhas, quase todas eram loiras ou ruivas. Tinha o loirinho endiabrado que não ficava sentado (pro desespero de uma das mulheres que acompanhavam), o outro loirinho comportadinho, a ruivinha linda que comia coisas do chão (mais uns 3 ou 4 anos e o Filipote pega hehehe), e elas eram tão bonitinhas e branquinhas e bochechudas e pequenas e fofas que eu fiquei até feliz.

Hoje passei pouquinho tempo na rua, mas é que amanhã vou ficar fora o dia inteiro, indo de manhã cedo pro curso de francês e ficando até de noite, pra Fête e la Musique, que tem trecos de musica gratuitos ao redor da cidade comemorando o solstício de verão eu adoro solstício de verão!).

Ah. E eu sou muito no contrafluxo da moda mesmo hehehehehe. Agora que Lost acabou, eu comecei a ver, desde o primeiro episódio e tal. To tipo no décimo, agora. E eu tô totalmente entendendo o que as pessoas diziam do Sawyer! E eu ia agora fazer uma grande dissertação sobre o Charlie de Party of Five (que eu nem assistia) e que faz o Jack em Lost e quem faz o Charlie em Lost era um Hobbit e como eu achava antigamente que quem devia fazer o Aragorn em Senhor dos Anéis era o Charlie de Party of Five, mas agora nem acho mais, porque o Jack de Lost é muito bonzinho demais, mas é porque eu acho que o casting do filme do Senhor dos Anéis foi perfeito em quase tudo, mas errou muito naquele Viggo Mortensen (é assim que se escreve?) pra fazer o Aragorn porque ele tem cara de caminhoneiro, e porra, o Aragorn não devia ter cara de caminhoneiro, ele devia ter cara de cafa sujinho quando fosse o Strider, e cara de Rei Bonitão quando fosse o Rei. Em vez disso ele ficou com cara de caminhoneiro quando era o Strider, e de caminhoneiro arrumado pra ir à quermesse quando virou Rei. Mas eu decidi não dissertar sobre isso porque me pareceu muito nerd.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Fui hoje me inscrever no curso de francês, como eu falei que ia mais cedo. Peguei o onibus, andei, subi ladeira, desci ladeira, subi mais ladeira (e etc), cheguei lá e está fechado ("fermé") por causa de "déménagement" (acho que era assim que se escrevia). Agora eu tenho que encontrar outro curso de francês pra descobrir o que significa déménagement.

Já que estava no centro mesmo, fiquei andando a esmo, pelas ruazinhas de pedestre, entrando em loja e saindo de loja. A cidade é pequena mas tem duas H&Ms!! Eba!!! Eu fiquei vendo tudo o que tinha na H&M (que é uma loja, acho que sueca, ou algo do gênero, que tem filiais em várias cidades da Europa, que é tipo uma C&A, em roupas baratas e tal, mas eu acho as roupas bem mais legais, eu tenho um milhão de roupas de lá – tipo aquela bermuda preta com os suspensórios que eu tenho, a maioria das minhas blusas de botãozinho, a minha saia cinza-escura que praticamente já anda sozinha, a blusa linda que parece estampa de papel de parede antigo que a Julia tem igual só que de outra cor, vários dos meus chapéus e boinas, etc.
Mas então, eu tava lá dando uma olhada, essa coleção nem tinha tanta coisa legal (fora uma capa de chuva linda azul escura com guardachuvinhas bracos estampados e eu tô há muito tempo – tipo alguns anos – procurando uma capa de chuva legal porque eu odeio guarda-chuva). Eu desci e estava vendo a parte de lingerie, pensando em comprar uns sutiã pra mim, e eu olho pro lado e tem uma menina magrinha (tipo beeeeeem mais magra que eu) e toda peituda (tipo bem mais peituda que eu) olhando sutiãs também. Aí eu fiquei irritada com a vida e saí da loja e fui procurar outra loja menos humilhante.

Mas sabe aquelas histórias dos brasileiros que vêm pra Europa e passam fome? Então. Aconteceu comigo. Quando eu vi, já eram tipo 3 da tarde e eu estava roxa de fome e não encontrava nenhum lugar barato pra comer, e eu me recusei a comer no Macdonald's pela segunda vez em 4 dias na Suiça – mas ó, a gente comeu lá no sábado e eu comi um saduiche muito, muito bom, no pão ciabatta, com queijo suiço derretido, muito gostoso mesmo. Mas então, acabei resolvendo comer alguma coisa do supermercado. E pra encontrar o supermercado de novo? Eu lembrava de ter passado na frente dele mais cedo, mas me perdi no meio de todas aquelas ladeiras tortas, e me dava um nervoso cada vez que eu achva que estava indo na direção certa e começava a descer uma ladeira, porque eu sabia que ia ter que subir em seguida... EU ODEIO LADEIRA! Mas tá, encontrei, entrei no supermercado pra comprar alguma coisa pra comer, acabei comprando um sanduiche de atum com alguma coisa que eu não sei o que era porque os ingredientes estavam em alemão, e smoothie (um suquinho misturado) e água. Ah, é, porque aqui não é que nem Basel, que eu podia encher a garrafinha de água em qualquer fontezinha espalhada pela cidade. Lá e que era Suiça. Isso aqui é a França disfarçada.
Aí fui procurar um lugar pra sentar e comer e eu não encontrava!! A cidade é bonita e agradável mas não tinha lugar pra sentar (só na escada de uma igreja, mas tava batendo sol e eu odeio comer no sol). Rodei muito até achar um banco (é, porque eu tambem não achei nenhum parque pra ir entra na grama na sombra de uma árvore, London style). Só achei um do lado da rua onde passa carro, e foi lá mesmo que eu comi, embora ter comido nas ruas de pedestre teria sido mais agradável.
Depois eu voltei na H&M e comprei a capa de chuva.

Esse deve ter sido o relato de viagem mais chato da história...
Bem, pelo menos não foi chato pra mim, foi bem agradável na verdade.

Amanhã vou procurar outro curso de francês. Sem déménagement.

Hockey sobre patins, e tal

Cheguei em Lausanne! Uhu!

Então, a viagem foi cansativa ra caralho, essas coisas, avião lotado, não tinha lugar na janela, meu assento estava quebrado então era o único do avião que não reclinava (essas coisas acontecem só comigo, não é?), etc. Troca de avião em Lisboa, venho de Lisboa a Geneva conversando com a seleção portuguesa de hockey sobre patinsque vinha pro campeonato mundial em Montreux (e eu nem sabia que isso existia, achava que hockey era só no gelo. Nem cheguei e a viagem já foi educativa). Chegando em Lausanne, vejo que perderam uma das minhas malas, ficou em Lisboa. Ai, ai. Pelo menos entregaram aqui no dia seguinte.

Mas foda-se, cheguei em Genebra, cheguei em Lausanne, passeei na região em volta, fui tomar vinho com o famoso chefe eslovaco, vi o lindo lago e os lindos alpes e os lindos vinhedos da região (sério, muita coisa bonita, absurdo), a cidade gracinha, as porcarias das ladeiras não-tão-gracinhas da cidade gracinha, o apartamento temporário, os Suiços me destratando porque eu sou brasileira e isso aqui é sinônimo de prostituta (que lindo, hein?), assisti o fraquinho Shrek 3 ontem, tomei weissbier local (que se chama bière blanche hehehe), falei francês, comprei meu chip Suiço de celular, vi a ferinha de rua do sábado e a beira do lago e os cachorrinhos berneses e as ruas limpinhas e no domingo tudo fecha e a cidade vira uma cidade-fantasma...

So far, so good.

Quem quiser me ligar pro celular suiço porque simplesmente não se aguenta mais de saudade, fique a vontade!
Meu telefone é:
(00 xx 41) 78 900 9829

É isso aí. Agora, onibinhos, Place St François, procurar o curso de francês, essas coisas.

terça-feira, 12 de junho de 2007

A importancia das coisas

Não dá pra botar acento no título do post, não?

Mas então.
Continuo arrumando coisas, e não param de aparecer outras coisas pra arrumar.

Isso tudo está me deixando meio deprê. Ou será a dengue?
Não interessa.

O que interessa (?) é que hoje eu matei um pouco da Luisa de 16 anos. E eu fiquei pensando sobre a importância das coisas. As coisas que a gente guarda, e tal.
Desmontei o meu mural de fotos, que estava lá basicamente desde que eu me mudei pra cá, foi uma das primeiras coisas que eu arrumei quando cheguei no quarto novo do apartamento novo da vida nova depois que voltei do intercâmbio. E o mural foi um pouquinho modificado ao longo dos anos, mas não muito (saíram umas fotos do ex - nao todas - e entraram algumas fotos do atual, entraram uns ingressos de show novos e algumas lembrancinhas e tal, mas o principal tá lá há milênios).
O mural continha as coisas que eu considerava mais importantes na minha vida, eu acho. Algumas fotos da minha família quando eu era pequenininha (meus avós, minhas primas lindas). Fotos do namorado, fotos da Julia, fotos da Cecilia, fotos das meninas da banda, e da escola, e fotos do pessoal do intercâmbio que eu não queria esquecer nunca, e ingressos de shows, e papéis de chocolate do asterix que ganhei de presente, e papelzinho de maltesers (depois eu reclamo que eu to gorda, as coisas mais importantes da minha vida certamente incluem muito chocolate), e referências a desenhos animados, e aquele papel do MacDonalds onde a gente desenhou uma vez nos bichinhos ameaçados de extinção, e coisas desse tipo. Tudo bem adolescente mesmo.

Arrumando coisas velhas, a gente encontra coisas que não tinham muita importância em uma determinada época, e que hoje são importantes – algum bilhetinho que alguém mandou pra mim, que sei lá por que acabou sendo guardado, e hoje é a prova de uma amizade que já dura há muitos anos, por exemplo. Algum desenho idiota que ficou no fundo de algum caderno de quando eu tinha 12 anos e hoje rende boas risadas. Cartas, e fotos, e tal, de tempos que não vão voltar. Fotos que a gente fica muito feliz que tirou. Mesmo com aquelas espinhas todas.
Já outras coisas perdem muito a importância. Depois que eu vi uma porção de shows, de repente aquela foto daquele show do Lagwagon que eu vi sozinha em Londres fica meio perdida. É mais uma banda vista de longe em mais um palco em mais uma foto mal-tirada. Já vi shows melhores, foda-se o Lagwagon no Astoria. E aquelas pessoas do intercâmbio que eu não queria esquecer? Confesso que eu esqueci algumas – "quem é esse cara aqui do lado da espanhola – e aliás, qual era o nome dela mesmo?". Algumas piadas perdem a graça - "por que eu achei tão engraçada a cara dessa mulher no papelzinho do restaurante?". Algumas fotos do ex-namorado onde a gente achava ele a pessoa mais linda do mundo inteiro perdem o sentido ("o que tem demais nessa foto, afinal? E aliás, ele nem era tão bonito assim!").
Outras coisas eram importantes lá e continuam importantes agora. O tal papelzinho do Macdonald's, e tal. E o ingresso do NOFX. E a foto minha com a Julia quando a gente era pequenininha, e o mesmo com a Cissa. E aquela foto com Clara, Bi e Analia que a gente não sabe como coube na poltrona e depois pintou de roxo. A importância é por motivos diferentes, mas ainda é importante.

Aí é nessas que eu vejo que nem vou cumprir minha resolução de não guardar nada, nunca mais na vida, nem na Suiça nem em lugar nenhum, só pra não ter que arrumar depois.
É bom ter algumas coisas guardadas. Mesmo que a gente não olhe pra elas quase nunca.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Guardioes de Limiar?

Faltando dois dias para eu embarcar, eis que começo a ficar com febre, e mais e mais febre, e é uma "virose não-identificada" que já me fez adiar a viagem duas vezes e se recusa a ir embora completamente. Quinta-feira deve sair o resultado do último exame de sangue (sim, eu faço exame de sangue toda hora agora, nunca vi!), pra saber se é dengue ou seja o que for. To cansada e de saco cheio e a essa hora já era para eu estar na Suiça comendo chocolate e falando francês e namorando.

Segundo o meu novo melhor horóscopo do mundo, que é o Livro que eu to lendo, isso se chama "Guardião de Limiar". Ou então se chama "a recusa do chamado" de uma maneira muito viadinha da minha parte...
Mas então, é um livro legal chamado "A Jornada do Escritor" de um cara chamado Christopher Vogler e é sobre roteiros mas eu to lendo isso também como um horóscopo porque eu sou boba e estou numa fase da minha vida em que eu quero horóscopos e respostas. Então eu podia estar lendo qualquer coisa que eu estaria lendo com essa interpretação. Mas o livro é legal mesmo, eu to gostando porque eu gosto de histórias e esse livro explica todas elas, inclusive a minha. Estou quase na "travessia do primeiro limiar", e eu vou atravessar a porra do primeiro limiar se eu algum dia ficar boa dessa porcaria dessa virose.

Mas por enquanto tô numa prévia da vida pacata, de repousinho, ouvindo musica e arrumando coisas e lendo cartas antigas de namorados passados e irmãos distantes e avôs mortos e mães que já voltaram de viagem. E vendo fotos de pessoas que eu já não lembro mais o nome e outras que eu lembro mas perdi o endereço, e de amigas que mudaram de cabelo e amigos que mudaram de namorada e pessoas que mudaram de estilo de se vestir... E eu, de cabelo azul, sobrevivendo a tudo. Até a essa porra dessa virose.

Não sei se é isso, se é a virose, se é estar simplesmente "esperando", se são as músicas velhas, as fotos, as cartas, se é estar novamente na casa da minha mãe, sei lá. Mas eu estou me sentindo estranha. Não tenho me sentido muito "eu".
Não estou gostando e quero ir embora logo.