terça-feira, 30 de setembro de 2008

futilidades do outono

Então. Não me julguem. Acontece que a principal coisa que me salva da depressão no outono, quando os dias vão ficando curtos e a vida vai ficando escura e tudo vai ficando frio, são as roupinhas bonitinhas de outono. No inverno as roupas são feias, porque a gente usa mil camadas, tudo que importa é se proteger do frio, então só o que me salva da depressão é saber que o solstício de inverno já passou e a partir do início da estação os dias já vão ficando mais compridos a cada dia. Minha Pollyana interior não tá com nada, se o melhor que eu consigo no inverno é "a cada dia que passa falta um dia a menos pro inverno acabar"... Deprê.

Hoje tava frio mesmo, resolvi tomar a porcaria do café do lado de fora e vi que não dá mais. Senti falta das minhas polainas – juro! – e meu cachecol psicológico não deu conta do recado, mesmo o casaco sendo bem quente. Mas eu tava com meu chapeuzinho, e meu cachecol psicológico é uma graça (o cara do starbucks da esquina me disse que ele tem um igual. Isso só é relevante pra mim, mas tudo bem hehehe), e eu comprei dois pares de luvas novas outro dia (uma é estilo mendigão marinheiro e a outra é estilo aviadora dos anos 40, as duas são demais!). Eu fico meio que adiando o prazer de usar minhas coisas novas, pra poder ter algo de legal mais pra frente, quando o frio estiver mais bizarrão. As luvas de mendigo-marinheiro resolvi que não ia usar até começar o outono oficialmente (porque o final do verão foi uma bosta). Depois resolvi que não ia usar até outubro, e eu teria falhado miseravelmente e usado hoje, no dia 30 de setembro, se não fosse um pequeno contratempo quando descobri que o par veio com duas mãos direitas (calma, podem respirar aliviados, eu consegui trocar na loja e tudo vai ficar bem no final). As de aviadora dos anos 40, só vou usar quando acabar o horário de verão, acho que é no final de outubro.

Hoje eu fui na Marks and Spencer e comprei trinta mil meias calças, porque eu vou ser corajosa e sair de saia por aí, aproveitando que não devo poder usar muito all-star nos próximos meses (aí vou usar sapatos que ficam bons com as saias). Sim, porque hoje choveu também. E as folhas já estão caindo, e o chão fica escorregadio com as folhas molhadas...

Nessa época do ano dá vontade de comer muito doce, também.

E nem estou vendo árvores amarelas... Acho que tenho que reler meu post das coisas boas do outono que escrevi no ano passado, pra lembrar o que era bom, afinal.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

North Star

É irônico que num trabalho sobre um navegador eu esteja tão à deriva.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Humboldt

"Curiosity might be pictured as being made up of chains of small questions extending outwards, sometimes over huge distances, from a central hub composed of a few blunt, large questions. In childhood we ask: 'Why is there good and evil?' 'How does nature work?' 'Why am I me?'. If circumstances and temperament allow, we then build on these questions during adulthood, encompassing more and more of the world until, at some point, we may reach the elusive stage where we are bored by nothing. The blunt large questions become connected to smaller, apparently esoteric ones. We end up wondering about flies on the sides of mountains or about a particular fresco on the wall of a sixteenth-century palace. We start to care about the foreign policy of a long-dead Iberian monarch or about the role of peat in the Thirty Years War."
[The Art of Travel, por Alain de Botton]

Achei isso muito maneiro. Um dia eu chego lá.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

God Save the Queen

Na crônica da Time Out dessa semana tem o seguinte trecho:

Londoners have never, in the style of Parisians, turned on their aristocrats. There have been no guillotines in Mayfair. But then London's aristocrats have always been careful to make themselves amusing – a devastatingly clever trick in a country that places a sense of humour above almost all other attributes.

Achei bem sacado. Ele nem tá falando do núcleo da família real especificamente, e sim dos aristocratas em geral (já que o resto da crônica trata de uma exposição de fotos que tá tendo sobre o glamour dos "debutantes" aristocratas nos anos 50). Mas acho que esse texto se aplica muito à família real também. E explica essa obsessão com a realeza já que, além de senso de humor, esse país adora tradição.

Os ingleses adooooram a família real. Não no sentido antigo, daqueles cavaleiros e cavalheiros com adoração ao monarca, patriotismo, etc. Eles adoram fofoca sobre a família real (eles adoram fofoca sobre qualquer celebridade, mas a família real em especial ocupa um lugar todo especial nos corações de quem lê tablóides). Os punks adoravam falar mal da rainha. Hoje as pessoas adoram implicar com a esposa do Príncipe Charles. Todo mundo adora quando aquele filho ruivinho dele toma um porre e faz alguma merda pouco digna da família real, como passar a mão no peito de alguma prima de terceiro grau.

Mas a gente vê muita evidência que a maioria dos ingleses também adora a família real no sentido antigo. Adorar mesmo, sem ironia. Tem gente que compra memorabilia da família real. Naquele livro dos diários do Adrian Mole (acho que chama "diário secreto de um adolescente" – não é do hipocondríaco!! É um anterior e bem mais engraçado) ele descreve a grande comoção que foi o casamento do Charles com a Diana, todo mundo assistindo na tv e chorando. Dá pra ver que ficam comovidos com os principezinhos indo pra guerra do Iraque. Leva-se muito a sério a condecoração da rainha, quando alguém vira Sir. Os produtos que possuem selo de aprovação da rainha orgulhosamente apresentam esse selo na embalagem. A Harrod's, embora tenha sido vendida pra um árabe milionário, continua sendo ponto turístico e sendo super prestigiada porque é "o lugar onde a rainha faz compras". E, é claro, o rosto de HRH Queen Elizabeth aparece em todas as notas, todas as moedas, todos os selos.

A minha relação pessoal com a família real, embora limitada, é positiva. No geral eu ponho a realeza na minha categoria mental de "ah, esses ingleses e suas tradicões pitorescas!", junto com as histórias dos corvos da Torre de Londres, as casas de chá e outras coisas do tipo. Quando eu morei aqui quando tinha 6 anos, eu adorava ver os produtos com selo de aprovação da rainha ou da rainha-mãe ("Rainha-Mãe"! The Queen Mother! Adoro esse nome). O da rainha-mãe era bonito, tinha dois leões, um de cada lado do brasão. Mas eu gostava mesmo era do da rainha, mesmo, que tinha um leão e um unicórnio (o leão olhava pra você, e o unicórnio olhava pro brasão). Minha mãe às vezes comprava uma geléia que tinha os dois selos, que apareciam estampados na parte de trás do rótulo, e eu ficava comparando os dois enquanto tomava café da manhã, que nem jogo dos sete erros.

Eu passei a implicar um pouco com a rainha depois de grande, porque eu tenho pena do Príncipe Charles. Ele não tem mais o que fazer, tadinho, além de ficar a cada dia mais velho e orelhudo e meio ridículo. Ele tem os projetos de caridade dele, não sei o que do meio ambiente, mas pô, ele é o príncipe, o próximo na linha de sucessão do trono, o que ele vai fazer? Faculdade? Arrumar um emprego? Curso de cerâmica? Porra. Tadinho. Eu achava que ela devia abrir mão do trono, virar rainha-mãe e ele virar rei. Mas depois que eu vi aquele filme "rainha" (que é sensacional, por sinal), eu passei a gostar mais dela. Ela consertou carros na segunda guerra, isso é bem maneiro. E ela usa aqueles chapeuzinhos! Eu gosto quando eu vejo alguma velhinha inglesa na rua vestida tipo a rainha, toda combinandinho. Fuefo.
E é claro que uma das coisas que eu mais gosto da rainha hoje é ver ela envelhecendo nas moedas. É meio maldoso, hehehe, mas eu acho divertido eles irem atualizando as moedas e a gente ver o papo da rainha crescendo.

Enfim... Minha alma punk não passou muito da marca dos meus 16 anos (e mesmo antes nunca foi tão punk assim), então confesso que acho a coisa toda da família real bem fuefa.

Pra fechar, o perfil da rainha em duas moedas, 1987 e 2002.
Ah, esses ingleses e suas tradições pitorescas!

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Chinatown

Ontem eu saí de casa depois de escrever aquele post e fui no metrô pensando nas pequenas coisas idiotas que me fazem me sentir parte integrante da cidade. Isso vai ser um outro post, com calma, um dia. Mas uma das coisas que eu fui pensando é como ia ser legal quando eu começasse a encontrar pessoas conhecidas de Londres por acaso na rua, que nem no Rio às vezes acontece. Londres é enorme, né? E eu conheço beeeem menos gente aqui. Será que um dia rola?
Enfim. Tava saindo da Jubilee em Green Park quando ouço alguém chamar meu nome. Olho pro lado vindo pela direção oposta estava a Ellen, uma taiwanesa gente boa da minha sala. Eu fiquei tão feliz! Ela tava de bobeira, então acabou vindo comigo encontrar a CJ e a gente foi ver Wall-E (não deu tempo da exposição do sueco, mas po! Finalmente vi Wall-E! Eeeeeê!!).
Foi muito maneiro encontrar alguém por acaso no metrô. Fiquei feliz o resto do dia.

Depois do filme, resolvemos ir jantar, e aproveitamos que o cinema era do lado de Chinatown, e que tínhamos uma local conosco, então fomos jantar lá. A Ellen levou a gente num restaurante taiwanês que abriu por lá, o primeiro especializado em comida taiwanesa no Reino Unido, e ela nunca tinha ido mas tinha ouvido falar que era bom. Foi maneiro, ela ia perguntando direções em mandarim pras pessoas na rua, pediu tudo pra gente (melhor dumpling que eu comi na vida, e tipo um omelete de ostra bonzão também), o restaurante era todo bonitinho, comemos muito e deu menos de 10 libras por pessoa, eu amo Chinatown. A garçonete, como sempre que eu vou a Chinatown, super grosseira.

A Ellen pediu desculpas pela falta de educação da garçonete, e explicou pra gente que em Chinatown os restaurantes todos pertencem a gansteres da máfia chinesa!! Ela disse que nenhum estudante chinês consegue emprego lá, que eles sempre colocam pessoas protegidas ou da família, e por isso que todo mundo é mal-educado: eles têm proteção da máfia. Caraca!!! A máfia chinesa é mesmo dona de Chinatown!!! Eu achava que isso era uma lenda urbana inventada por ingleses xenofóbicos ou que assistem muito filme do Tarantino!!!
Claro que eu já tinha notado que os garçons são sempre mal-educados, mas eu achava que era uma coisa cultural, que o conceito de "o cliente tem sempre razão" era uma coisa ocidental. A Ellen garantiu que não: em Taiwan o cliente também tem sempre razão, e na China, onde o pessoal é mesmo mais tosco, nas grandes cidades o serviço também é bom. E que nunca é tão ruim quanto nesses restaurantes de Chinatown.
A CJ achava que eram mal-educados porque ela é americana e todo mundo odeia os americanos hahahaha.

Enfim. Depois fomos tomar milkshake numa diner tipo americana retrô que tem no Soho, a CJ nunca tinha ido e se amarrou. Passamos também por um tipo boteco italiano que tem lá, e só tinham homens lindos dentro, então fomos embora da porta pra evitar frustração desnecessária.

Enfim. Já que faei de Chinatown, vai um videozinho do Hot Club of Cowtown, que vai tocar em Londres na quinta, num show onde provavelmente vou acabar indo sozinha. Ah, mas o Bernardo vem aí, por duas semanas só vou a show acompanhada!! Eba eba eba!