sexta-feira, 9 de novembro de 2007

campo de batalha

Tá. Eu não preciso trabalhar hoje e você não tem aula. Então vamos mesmo fazer compras em Oxford Street. Mas lembre-se, Julia: lá é um lugar de agressividade, tensão e medo. É um campo de batalha. É preciso, acima de tudo, manter a calma, não se deixar dominar pelos nervos. É preciso estar com os sentidos em alerta o tempo todo. Lá é cada um por si, compradores solitários ou em gangues, não importa, é a lei da selva. É preciso desviar da multidão formada por hordas de velhinhas barraqueiras, batedores de carteira, distribuidores de flyers, muçulmanas besuntadas em ouro, manadas de pré-adolescentes vulgares, famílias com carrinhos de bebê, moças de bota que berram no celular, orientais que tiram fotos, indianos distribuindo jornais gratuitos, senhoras sem noção de espaço, e, presumo eu, até pessoas legais e normais que a gente nem percebe que são normais e legais porque a essa altura todo mundo já está tão na defensiva que um pedido de "excuse me, please" é interpretado como um "sua mãe era uma prostituta suja". Em uma loja toca Jack Johnson, baixinho, está agradável. Em outra toca Hip-Hop, alguns decibéis acima do que deveria, o vendedor faz uma piada sobre o meu casaco e eu percebo que não tenho mais senso de humor. Espero que eu não me arrependa de comprar essa calça amanhã. "Não aguento mais experimentar nada. Aposto que pra mim é M. Vê se tem M nesse cinza escuro aí do seu lado." A cada loja em que a gente entra temos que tirar os casacos, e vestir de novo quando voltamos pra rua. As luzinhas de natal azuladas vão acendendo e enfeitam a rua à medida que escurece, dando à paisagem um aspecto de conto de fadas do consumismo. Horas, horas, e a gente mal andou 2 quarteirões... Não dá pra aguentar mais, hora de voltar pra casa, metrô lotado na hora do rush. Esse senhor não para de me encarar, velho chato. Não consigo ler o que está escrito no jornal daquele cara sentado... Meredith o quê? Deixa pra lá. London Bridge, uhu, bom chegar em casa – e por que eu sempre peço desculpas pras pessoas que esbarram em mim? Frappucino Frappucino Frappucino Frappucino!!!

Sobrevivemos quase intactas à batalha, e sem se voltar uma contra a outra (é isso o que o inimigo quer, afinal). Entre os espólios de guerra, a calça nova que eu vou usar amanhã. Não achei um casaco como eu queria, nem minha bota. Semana que vem tem mais, então. Ufffff...

Um comentário:

tati tabak disse...

Menina!!! E eu que nem sabia que vc tinha blog!! Adorei! Gosto muito do seu jeito de escrever! Tô estrondando nos pontos de exclamação. chega. haahhahahahahahaha

só mais um:

Muita sorte com tudo aí!!

mil beijos, Tati (tabak).